IGP identifica vítima a partir de fragmento de osso de 22 anos
Ossada é a mais antiga já analisada pelo Instituto
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Um fragmento de osso de apenas sete centímetros foi suficiente para que o Instituto-Geral de Perícias identificasse uma vítima de 13 anos, desaparecida em 2000, em Manaus, no estado do Amazonas. O trabalho permitiu dar um desfecho à história de buscas da família, que durou 22 anos. Essa amostra foi a mais antiga já analisada pela Divisão de Genética Forense do Departamento de Perícias Laboratoriais do IGP, e exigiu diversos tipos de técnicas para a confirmação da identidade.
A história
Um menino, D.D.N.G., desapareceu após ser visto por uma testemunha em um barco de pesca no Rio Negro, no Amazonas. A família, além de registrar ocorrência policial, seguiu buscando de forma independente por seu paradeiro. Em uma dessas buscas, em 2003, encontrou um crânio no rio, que foi levado até o Instituto Médico Legal (IML) do Amazonas. Na época, porém, aquele estado não contava com um laboratório que permitisse a realização do teste de DNA, necessário para fazer a identificação.
Pelos oito anos seguintes, o osso ficou armazenado em temperatura ambiente no IML de Manaus. Em 2011, durante um mutirão de sepultamento de ossadas, a maior parte do crânio foi enterrada junto a outras ossadas antigas. Porém, uma amostra de cada foi guardada no IML manauara, o que permitiria a realização do exame futuramente.
Depois de uma tentativa de identificação no Laboratório de Genética Forense de Minas Gerais, a Polícia Civil do Amazonas pediu auxílio para o IGP-RS. Foram enviados o fragmento de osso e as amostras de sangue da mãe e da irmã do menino desaparecido. Os peritos criminais Claudio Xavier Machado e Polyana Sartori Maier conseguiram, após diversos exames, chegar com segurança ao resultado positivo para o parentesco, no dia 20 de outubro. Agora, o fragmento de osso voltará para o Amazonas, onde a família poderá realizar suas despedidas: “Depois de 22 anos de busca e angústia, essa família terá o desfecho para o caso”, afirma o Chefe da Divisão de Genética Forense do IGP-RS, Gustavo Kortmann.
Muitas dificuldades até o desfecho
O longo tempo de armazenamento do osso, nem sempre em condições corretas, levou a muitas dificuldades na realização dos exames. O fragmento de crânio chegou bastante degradado. Mesmo assim, os peritos conseguiram realizar a identificação usando três técnicas diferentes de extração de DNA - cada técnica leva de 2 a 3 semanas para ser realizada. Estas levaram a resultados parciais, que juntos permitiram chegar ao perfil genético, que foi então comparado ao da família. Para reforçar o resultado, foi encontrada uma variante genética rara, tanto no DNA do osso quanto no da mãe e da irmã. A presença dessa variante aumentou para mais de um milhão de vezes a probabilidade das amostras serem de familiares.
Conforme Kortmann, o resultado positivo consolida o Centro Regional de Excelência em Perícias Criminais (Crepec) do IGP-RS, inaugurado em março deste ano, como um centro de excelência nacional, auxiliando não só na resolução de casos locais, mas também de outras regiões que necessitem de perícias complexas, inclusive com técnicas de biologia molecular. “Mais de 3.500 Km em linha reta separam o ponto de encontro do crânio desse menino à margem do rio, pela própria mãe, e o laboratório onde conseguimos a identificação do corpo. Estamos quase em pontos geográficos opostos no país. No entanto, quando está em jogo o fim do sofrimento de uma família, não há distância, tempo, ou fronteiras geográficas que impeçam a ciência e a cooperação de superar qualquer desafio”. Além do caso do Amazonas, o IGP está auxiliando no processamento de 500 vestígios de crimes sexuais cometidos em Santa Catarina.
Cooperação entre os estados
A Divisão de Genética Forense do IGP-RS, bem como o Laboratório de Biologia e Genética Forense da Polícia Civil do Amazonas e mais vinte laboratórios estaduais, do Distrito Federal e da Polícia Federal compõem a Rede Integrada de Bancos de Perfis Genéticos. A finalidade é manter, compartilhar e comparar perfis genéticos entre laboratórios das perícias oficiais criminais, para ajudar na apuração de crimes. A rede também compartilha insumos e mantém os mesmos parâmetros técnicos nacionais e internacionais, além de implementar técnicas e dividir a resolução de casos, como o da identificação desta ossada.
Segundo a gerente do Laboratório de Biologia e Genética Forense do Instituto de Criminalística (IC), Daniela Koshikene, “no dia 21 de outubro a família foi informada sobre a identificação do cadáver e, mesmo sendo uma notícia difícil pela certeza de ele ter perdido a vida, agradeceram imensamente, cientes dos esforços de sua equipe, que permitem o fim de um ciclo de 22 anos de incertezas.”
Texto: Tabata Kolling/estagiária
Edição: Angélica Coronel/Ascom IGP