Papiloscopia, essencial no combate à criminalidade
No dia do papiloscopista, alguns exemplos de crimes solucionados com esse trabalho
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Dia 5 de fevereiro é comemorado o Dia do Papiloscopista. Mas você sabe o que faz um papiloscopista? Essa profissão, fundamental no combate aos crimes, atua de várias maneiras, sempre com o mesmo objetivo: revelar de quem são as pequenas linhas que, de forma única, desenham as nossas mãos.
A atuação mais frequente do papiloscopista é a que vemos em muitos filmes e seriados. Em uma cena de crime, alguém passa um pozinho em busca das digitais de um criminoso. E é justamente isso que fazem os papiloscopistas do Instituto-Geral de Perícias do RS, sempre que a equipe é acionada. Usando substâncias que aderem a diferentes superfícies, eles buscam as impressões digitais – ou, em alguns casos, pequenos fragmentos delas. A papiloscopista Suzana Maurer, chefe do Posto de Identificação do IGP em São Borja, lembra um caso que mobilizou a região: o assassinato de uma empresária, morta com três tiros e uma facada em um assalto forjado, em 2015.
Suzana conseguiu coletar as impressões digitais em uma fita adesiva, que foi usada para imobilizar a vítima. O trabalho continuou no laboratório de Revelação de Impressões Latentes, no Departamento de Identificação em Porto Alegre. A impressão coletada foi revelada e comparada com o banco de dados do Estado. O sistema ofereceu vinte possíveis candidatos. A digital comprovou a presença, na cena do crime, de um dos autores do homicídio. Novamente a expertise do papiloscopista entrou em cena: destes vinte candidatos, é a análise feita pelo profissional que apontou a identidade do suspeito.
Outro exemplo aconteceu em Porto Alegre. Um crime chocou a Restinga, um dos maiores bairros da capital. Um homem matou duas mulheres e duas crianças, ateando fogo na residência. Como o homem era ex-namorado de uma das vítimas, poderia alegar que as impressões digitais dele, encontradas na casa, eram do tempo do convívio com a moça. A comprovação da autoria veio de um pedaço de caixa de aveia, coletado pelo papiloscopista na cena da chacina. O material, com um lado chamuscado, indicava que tinha sido usado para dar início às chamas. O outro lado estava amassado, como se fosse um leque. Na parte que foi manuseada, a papiloscopia revelou as impressões digitais, provando a participação do homem.
Às vezes, a dificuldade pode estar na forma da coleta. Em 2012, uma sequência de crimes intrigou a capital. Taxistas estavam sendo assassinados em série e a Polícia não tinha suspeitos. A dificuldade era encontrar as digitais do autor do crime, em meio a tantas outras digitais de usuários. Foi quando os papiloscopistas do IGP resolveram utilizar, nos carros das vítimas, uma substância até então usada apenas em laboratório. O cianocrilato, usado nos carros, revelou que uma das impressões estava presente em mais de um veículo, o que forneceu uma pista importante para a investigação. A técnica hoje é largamente utilizada nos depósitos que abrigam veículos envolvidos em crimes.
Outro trabalho bastante frequente é a identificação de pessoas mortas em acidentes ou em atos violentos. Mesmo que a vítima esteja portando documentos, é preciso comprovar a identidade por métodos de identificação forense. Quando o corpo é encontrado em estado de decomposição - sem a consistência necessária para que o dedo seja pressionado em um papel - a identificação necropapiloscópica usa uma espécie de luva (saiba mais neste link): o dedo da vítima é envolto em uma espécie de capa, que depois é vestida pelo papiloscopista e, por fim, coletada. O índice de acerto é de 97%, acima da média de países de primeiro mundo. Essa é a forma mais rápida de identificação. As demais – pela análise antropológica da ossada e via coleta de DNA – levam mais tempo e tem custos maiores para o Estado.
Função Social - a papiloscopia também cumpre uma função social. Muitas vezes, pessoas são internadas em hospitais, sem identificação. É quando a equipe da papiloscopia Seção de Perícias de Identificação Civil do IGP é chamada para ir até o local e fazer a coleta das impressões digitais. Um desses atendimentos acabou beneficiando várias pessoas. Um rapaz, que estava sem os documentos, sofreu um grave acidente de moto, e foi levado para o Hospital de Pronto Socorro (HPS) em Porto Alegre. A equipe médica constatou a morte cerebral, e percebeu que vários órgãos poderiam ser doados para transplante. Mas, para isso, seria necessário primeiro identificar o rapaz- e então contatar a família da vítima, para que autorizasse a retirada. “Os médicos pretendiam desligar os aparelhos as 20 horas. Fomos chamados as 17h. Conseguimos identificar o rapaz. A família foi acionada e concordou com a doação. Os órgãos dele beneficiaram oito pessoas”, recorda o papiloscopista Mario Thadeu Cabreira Júnior.
Frequentemente, a equipe é chamada para identificar pessoas com transtornos mentais que são encontradas nas ruas e levadas para abrigos, ou crianças que são abandonadas em locais de abrigagem. A identificação permite que as equipes de assistência social requisitem benefícios do governo federal, que são revertidos em medicamentos e outros itens. Mas a maior função social da papiloscopia está na emissão do documento que garante cidadania a todos. O banco de dados do IGP/RS possui hoje nove milhões de impressões digitais cadastradas. Todas foram analisadas pelos papiloscopistas do IGP antes de integrar o banco. “O IGP tem orgulho desses profissionais, tão qualificados e que prestam serviços relevantes à sociedade e à justiça gaúcha”, afirma Heloisa Kuser, Diretora-Geral do IGP.