Estudo mostra abrangência dos suicídios no Estado
40% das vítimas tinham antecedentes criminais. Idosos são o grupo com mais casos. IGP também trabalha com prevenção
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Um estudo da pesquisadora Maria Cristina Franck, perita criminal do Departamento de Perícias Laboratoriais do Estado mapeou os casos de suicídio registrados no Rio Grande do Sul entre 2017 e 2019. Os casos foram catalogados quanto à idade, gênero, raça, horário, região, dia da semana, entre outras variáveis. Os dados são do IGP e da Secretaria de Segurança Pública.
Foram analisados 4.017 casos, o que resulta em uma taxa de 11,8 suicídios a cada 100 mil habitantes/ano. A maioria, do sexo masculino (79,8%) e da raça branca (90,5%). A idade das vítimas variou de 7 a 101 anos, sendo de 55 a 59 a faixa etária mais freqüente entre o sexo masculino e de 45 a 54 anos, entre o feminino. Os idosos, com 60 anos ou mais, são o grupo que apresenta a maior taxa de suicídios: 26,2 por 100 mil habitantes/ano.
A depressão é a causa atribuída com mais freqüência (26% das ocorrências policiais) seguida por problemas de relacionamento (7,2%) e de saúde (6%). A ausência parental – falta de registro do nome do pai na certidão de nascimento foi observada em 6% dos casos e mostrou-se frequentemente associada às vítimas jovens (15-29 anos).
As regiões que apresentaram as taxas mais elevadas foram Vale do Rio Pardo e Médio Alto Uruguai, com médias de 21,6 e 19,5 casos/100 mil habitantes, respectivamente. O município de Venâncio Aires apresenta a maior taxa do Estado: 99,2 casos por 100 mil habitantes/ ano.
Histórico Policial- o estudo também levou em conta se o cidadão tinha antecedentes criminais, ou seja, se constava como indiciado, acusado, autor, infrator, suspeito ou foragido nos registros policiais. Isso foi observado em 40,7% dos casos. Dentre as vítimas com antecedentes criminais, observou-se um aumento de 2,7 vezes na chance de haver ausência parental comparando-se à presença de ambos os genitores na certidão de nascimento.
Os resultados foram publicados nas revistas científicas Brazilian Journal of Forensic Sciences, Medical Law and Bioethic e Epidemiologia e Serviços de Saúde e fazem parte da tese de Doutorado (UFRGS) que está sendo elaborada pela autora. “O trabalho pericial pode auxiliar os serviços de saúde na compreensão e enfrentamento desse fenômeno com dados locais, atuais e importante correlações. A análise epidemiológica pode ser o ponto de partida para vários outros estudos. Esses dados podem subsidiar a elaboração de políticas públicas e a atuação dos órgãos de saúde e assistência social”, afirma Maria Cristina. O próximo passo é a publicação do estudo toxicológico abrangendo todos os casos de 2017 a 2019, com base nos Laudos que analisam a presença de álcool, drogas ilícitas e medicamentos na urina e no sangue dos indivíduos.
Atendimentos e prevenção- além da pesquisa, o IGP também atua na prevenção dos casos de suicídio. Um deles é o atendimento psicossocial, realizado na sede do Departamento Médico-Legal, em Porto Alegre. Uma equipe formada por assistentes sociais e psicólogos atende os que passam por perícia na clínica médica do DML. “Quando detectamos essa tendência fazemos o acolhimento e damos orientações, pensando junto com a vítima as melhores possibilidades para cada caso”, explica Angelita Rios, coordenadora do Serviço de Atenção Psicossocial. Elas são encaminhadas para a rede de proteção, formada pelos órgãos que dão suporte à luta contra a violência: clínicas de atendimento psicoterápico, postos de saúde, ONGs ou atendimento clínico em Universidades.
Outra contribuição do IGP na formulação de políticas públicas que previnam o suicídio foi a participação em uma cartilha (Dados sobre local de crime ajudam a prevenir suicídios) destinada aos profissionais de saúde e segurança pública que lidam com o tema. Entre as dicas estão agir com segurança e cautela, criar clima de confiança com a pessoa em crise e procurar ganhar tempo.