Descobertas por meio das digitais
Um dos pilares do IGP, a papiloscopia é essencial para a elucidação de crimes e para o exercício da cidadania
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Revelando identidades e vestígios por meio das impressões digitais, os papiloscopistas têm papel essencial nas perícias criminais e na identificação civil dos indivíduos. Mas como é o trabalho desses profissionais no dia a dia dentro do Instituto-Geral de Perícias (IGP)?
Um dos setores que demandam esse trabalho é a confecção de Carteiras de Identidade. A chefe da Divisão Civil do Departamento de Identificação, Ana Celina Coutinho, esclarece que todo encaminhamento de carteira de identidade passa por uma análise biográfica e papiloscópica, ou seja, para a carteira de identidade ser emitida no estado, é obrigatória a autorização de um papiloscopista. Este processo inibe tentativas de fraude e falsidade ideológica, e permite a distinção de homônimos, dentre outros. Esses profissionais também atuam identificando os detentos do sistema prisional gaúcho, indivíduos presos em flagrante em delegacias ou de outros estados. “O nosso foco é a parte das impressões digitais, ou seja, os dados biométricos, porque são essas impressões digitais, coletadas quando a pessoa encaminha uma identidade, que estão alimentando o nosso banco de dados”, afirma Ana. Atualmente, aproximadamente nove milhões de indivíduos estão cadastrados . Outro serviço disponibilizado é o atendimento domiciliar. Gratuito, ele possibilita que pessoas acamadas, hospitalizadas, em asilos, com dificuldades de locomoção ou pessoas com o espectro autista, que não toleram o ambiente ruidoso dos Postos de Identificação, tenham seu documento emitido. “Nós estamos levando cidadania a essa pessoa que não podem ir até o departamento ou até o Posto de Identificação”, afirma Ana Celina, ressaltando o papel social prestado pelo departamento.
Os papiloscopistas ainda são os responsáveis pela determinação de identidade de cadáveres oriundos de morte violenta. A determinação da identidade é realizada em cadáveres em qualquer estágio de putrefação, afogados, macerados, carbonizados, através de técnicas de laboratório desenvolvidas e aplicadas pelos papiloscopistas. Dependendo do estado do cadáver, mais de uma técnica pode ser aplicada. “É um trabalho laboratorial que exige expertise e cuidado, pois muitas vezes temos apenas um dedo ou parte dele para realizar a perícia e revelar a impressão digital”, diz Lizandréia Brombatti, papiloscopista Chefe da Seção de Identificação Criminal e Necropapiloscópica do Departamento de Identificação. Do total de materiais biológicos post mortem encaminhados ao laboratório, os papiloscopistas conseguem determinar a identidade de 98%.

Mudanças com a nova Carteira de Identificação Nacional - apesar de ainda estar em fase de adaptação, as mudanças trazidas pelo novo modelo nacional das Carteiras de Identidade, que traz o CPF como número de identificação, são vistas de modo positivo por Ana Celina. Com a validação feita também pelo sistema da Receita Federal a nível nacional, as fraudes devem ser reduzidas, à medida que a substituição acontece, já que não será mais possível fazer um documento por Estado. Além disso, problemas de cadastro em algum dos órgãos podem ser detectados e corrigidos.
A papiloscopia em locais de crimes - de carros a garrafas plásticas, objetos e bens envolvidos em circunstâncias violentas passam pela análise de um papiloscopista em busca de impressões digitais que revelem os indivíduos que estavam na cena do crime. Toda impressão digital coletada e todos os objetos recolhidos em local de crime são analisados por papiloscopistas no Laboratório de Revelação de Latentes, onde são aplicadas técnicas periciais de revelação de impressões digitais muitas vezes invisíveis a olho nu. Edméia Viana de Oliveira, papiloscopista chefe da Divisão de Perícias Papiloscópicas, conta que, com o auxílio de equipamentos e produtos específicos, é possível determinar a identidade em fragmentos de impressões digitais revelados em diversos materiais: “Recolhemos uma luva de látex, em um local de crime. No laboratório desenvolvemos um revelador que possibilitou a coleta de um fragmento de impressão digital desta luva. Porém, ainda não foram encontrados registros compatíveis que permitissem encontrar o dono ou dona da digital, mas este fragmento ficará arquivado para futuro confronto. Já em uma perícia do carro de uma vítima de latrocínio localizamos fragmentos de impressões digitais de duas pessoas e com isso fornecemos um caminho à investigação policial”, conta ela. As identificações de suspeitos também foram possíveis pela coleta das digitais em um caso de furto em uma loja de departamentos.
Os papiloscopistas também desenvolvem métodos para possibilitar revelações em diferentes superfícies e diminuir custos. Um desses trabalhos é o desenvolvimento de um revelador para munições. Com o calor envolvido no disparo de uma arma de fogo, as digitais podem ser danificadas, o que dificulta o trabalho. Além disso, a superfície é muito pequena. O estudo, comandado pela papiloscopista Crisle Vignol Dillenburg como parte de sua tese de doutorado na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), possibilitou, nos testes, a revelação com maior precisão da digital no projétil, e com o auxílio da equipe de fotógrafos criminais do IGP, que uniu diversas fotos de diferentes ângulos em uma mesma imagem, a digital gravada no cilindro foi planificada, possibilitando a identificação. Agora, os resultados estão sendo aplicados a casos reais, e poderão auxiliar na elucidação de crimes. A equipe também trabalha para desenvolver novos reveladores e luzes que possibilitem o aumento da eficiência e a diminuição de custos com baixo impacto ambiental. A diretora do Departamento de Identificação do IGP, papiloscopista Katia Reolon Bittencourt, define o trabalho dos papiloscopistas do Rio Grande do Sul como excepcional. “São profissionais muito qualificados, comprometidos em pesquisas de novos processos, dedicados a fazer todo o possível para que a população gaúcha tenha toda a segurança, seja na emissão de carteira de identidade como na entrega da prova técnica para a elucidação de crimes.”
Texto: Tábata Kolling/ Estagiária
Edição: Anelize Sampaio/ Ascom SSP